De repente, vinda dos lados da filosofia, como lhe compete vir, eis que, no debate*, surge uma questão incómoda, até pelo tom algo deselegante com que foi formulada: devemos procurar vida inteligente fora do nosso planeta? Afinal de contas, o lado negativo do nosso comportamento, de desrespeito pela natureza e de subjugação, quando não aniquilamento, dos mais fracos pelos mais fortes, não se recomenda a ninguém e, por outro lado, nada garante que espécies inteligentes alienígenas, a existirem e a entrarem em contacto, nos recebam em festa. Não me parece, no entanto, que uma preocupação moral que, segundo Kant é o que verdadeiramente nos distingue dos animais, ou uma reserva de prudência, possam deter essa força que, a um tempo, tanto caracteriza o ser humano como é independente da sua vontade, que é a força da curiosidade. Nem, num plano mais prático, que possam pôr em causa o formidável negócio da exploração espacial, ou o progresso científico/tecnológico, nos mais variados planos, que dela decorre, ou as vantagens geo-estratégicas que advêm para os respectivos países. Sinto-me tentado a afirmar, à La Palisse, que o que for possível ao ser humano descobrir, ele descobrirá, como foi, por exemplo, o caso da energia nuclear, cujo uso militar contra populações civis, esse sim, não tendo sido sujeito ao devido exame moral, colocou uma mancha negra indelével na pele dos seus autores e da humanidade em geral. Entretanto, apesar dos inegáveis e entusiasmantes sucessos alcançados na detecção de planetas extra-solares**, continuam por responder as perguntas de sempre: como se originou a vida na Terra? Existe vida fora do nosso planeta? Estamos sozinhos no Universo? E mesmo que venhamos a, sensacionalmente, descobrir vida inteligente fora do planeta azul, como poderemos comunicar com um mundo a anos-luz (mesmo que só umas dezenas) de distância? Em todo o caso, os cientistas acreditam que as próximas décadas trarão grandes novidades. A busca vai continuar.
*Debate “Exoplanetas e a perspectiva humana na busca de novos mundos”, realizado em 18 de Setembro passado no Teatro Rivoli, no Porto, que contou com a participação de dois astrofísicos, um biólogo, um filósofo, uma artista plástica e de um excerto de um documentário cinematográfico.
**1.760 exoplanetas confirmados (distribuindo-se, conforme o tipo, por: Júpiteres quentes: 1.038; Gigantes gasosos: 426; Super Terras: 199; Terrestres: 80: Tipo desconhecido: 17), girando em torno de 1.076 estrelas, das quais 454 constituem sistemas multi-planetários. Além dos já confirmados, há mais 3.269 exoplanetas candidatos, ainda não sujeitos a confirmação. A destacar o facto de parte desses exoplanetas (304, dos quais 17? já confirmados) orbitarem na “zona habitável”, isto é, com potencialidade para terem água e, eventualmente, vida.
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