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01/04/14

SÁBIOS

António Mesquita

 

Pergunta Fiama: "Como se explica, Hípias, que os antigos sábios todos se tenham afastado dos negócios públicos?"

Terão sido realmente sábios, no que se refere à política, homens como Platão que quis experimentar a sua utopia junto do tirano de Siracusa?

Platão, nisso, falhou. Deu a mesma queda, a propósito da qual troçou de Tales a escrava trácia. Não se pode olhar para as estrelas e ao mesmo tempo estar atento ao poço que surge no caminho.

Não foi a sabedoria que o levou a querer reformar Siracusa, segundo o ideal da 'República'. Se ele é, talvez, o primeiro dos sábios antigos, é por outras razões, e não por causa dessa fatal ilusão que o levou a comparar a 'navegação' na política com a arte do piloto. O filósofo não é o mais apto para governar o Estado, porque a interpretação do passado não ajuda nada a fazer previsões em política. Em política não há leis históricas e todos os acontecimentos são 'singularidades'.

Mas todos os 'sábios' têm a mesma tentação de influenciar a condução dos 'negócios públicos'. E hoje são preparados para isso nas grandes escolas de economia e de gestão. Não chegaram a sair da 'caverna', porém, ficam à mesma deslumbrados com o falso sol.

Nenhum tirano falha em 'dar-lhes a volta'. Não por capricho, ou simples medo de perder o poder. Mas porque, tudo considerado, os tiranos (hoje, os da finança 'global') preferem, o mais racionalmente que é possível,"o que está". São 'pacifistas' à sua maneira, e os maiores garantes da 'estabilidade'. Em ambos os casos, trata-se da mesma racionalidade que Foucault acusava de servir o poder.

 

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