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01/03/19

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BALANÇO

Mário Faria

(Sondagem: 58% dos portugueses faz balanço positivo dos 2 anos da maioria de esquerda - Geringonça)


Nesta altura do ano, é costume os jornais e a TV escreverem e falarem sobre os acontecimentos mais marcantes do ano e, em função dos seus julgamentos, apreciarem os bons ofícios do Governo ou o seu contrário. Eram os três canais de notícias, uma dúzia de jornalistas e comentadores. O pluralismo não fazia parte dessas mesas. Peroram convencidos que eram os donos da bola. Parei na CMTV: aí a música e o refrão eram semelhantes mas havia mais barulho e artistas menos reconhecidos. Com o futebol, encontraram essa ilusão de equidistância, formando mesas de convidados e abrindo os jornais a alguns comentadores e escribas das forças dominantes do pé na bola. E descobriram, assim, nas disparidades que se mantêm, um tipo de tratamento que “garante” a igualdade de oportunidades a todos os parceiros. Azuis, verdes ou vermelhos. Uma mentira que não esconde as tendências dominantes na política e nos media. Apesar da escassez dessa abertura a que temos direito, é importante que não se perca qualquer oportunidade para nos situarmos à esquerda das verdades feitas.
O governo navega à vista, dizem uns quantos; outros compilam todas as desgraças do reinado da Geringonça, para reclamar e exigir mais. No meio das suas debilidades e batido pelas certezas da oposição, Costa tem uma tarefa árdua e sem aliados à vista, depois dos serviços mínimos que PCP e BE já cumpriram para fazer passar o Orçamento de Estado. Face a tanta contestação social, dei por mim a pensar que (talvez) uma mudança de governo possa ocorrer, apesar das sondagens não o indicarem. As greves dos professores e dos enfermeiros estão a desgastar o governo numa luta que não pode “perder”  e os trabalhadores querem “ganhar”. E neste processo quem sai favorecida é a oposição. Num país tão brutalmente endividado (dívida: pública, das empresas, das famílias e da banca) e, portanto, muito frágil a uma qualquer bolha maligna, capaz de irritar a Troika e os aliados cá do bairro. E se acontecer, já se sabe que quem vai pagar são os que, como no passado, gastaram acima das suas possibilidades: os suspeitos do costume.

A CEGUEIRA

Mário Martins

https://www.google.com/search?q=brexit+images



“As guerras entre povos serão mais terríveis do que as guerras de reis.” * 
Winston Churchill, em 1901

“Depois de qualquer guerra, as coisas ficam melhor.” 
Um parlamentar alemão, em 1911

“A Europa, na sua insanidade, deu início a qualquer coisa de inacreditável. É nestas alturas que percebemos a que triste espécie de animal pertencemos. Eu prossigo tranquilamente os meus pacíficos estudos e contemplação e nada mais sinto do que comiseração e repugnância.” **

Albert Einstein 19 Agosto 1914
(In A Primeira Guerra Mundial, de Martin Gilbert)

“As grandes nações sempre agiram como gangsteres, as pequenas, como prostitutas.”
Stanley Kubrick (1928-1999)


As próximas eleições para o parlamento europeu, a 26 de Maio, afiguram-se mais importantes do que as eleições de Outubro para a Assembleia da República. 

Elas vão realizar-se num tempo de forte pressão política - comandada por forças de extrema-direita, nacionalistas e populistas, mas em que participam, ainda que com diferente motivação, forças anti-capitalistas de esquerda - pelo “glorioso” regresso dos estados-nação.

É o caso do processo de saída do Reino Unido da União (seja ou não concretizada), como é o caso da retórica do governo italiano e de alguns governos da europa central, dos partidos de extrema-direita que  fazem parte do governo austríaco e do governo andaluz em Espanha, ou dos partidos da oposição de extrema-direita da Senhora Le Pen em França, da Alemanha, da Holanda e da Suécia, todos sob o impulso da ideologia nacionalista e populista veiculada pelo governo dos Estados Unidos. 

A União Europeia é acusada de pôr em causa a soberania dos estados-membros e de ser anti-democrática, mas, se por um lado a soberania dos países assenta (sem menosprezar a sua força militar) cada vez mais no seu poder económico-financeiro e no grau de domínio tecnológico, dificilmente se pode afirmar, por outro lado, que a União padece de um défice democrático quando os povos têm votado maioritariamente, pelo menos até à recente vaga nacionalista e populista, nos partidos claramente pró-europeus.

Em tudo isto é estranho e inquietante que não se dê  a devida relevância ao perigo de guerra - sobretudo por parte do povo inglês que bem conhece os seus horrores - que o eventual fim da União Europeia previsivelmente acarretaria entre nações historicamente caldeadas por séculos de hostilidades mútuas, de que, tragicamente, se destacam as duas grandes guerras nacional/imperialistas do século passado.

É certo que as condições objectivas, 70 anos depois do fim da segunda guerra mundial, não serão tão propícias à eclosão de uma guerra entre grandes nações europeias, já que a Alemanha perdeu o poderio militar de outrora e que a França e o Reino Unido são potências nucleares, mas não devemos subestimar os ressentimentos antigos, as disputas territoriais e de riquezas naturais, e o fervor patriótico.

Ao contrário, deveríamos ter presente que a ideia fundadora, em 1951, do que é hoje a União Europeia foi, a par da sinergia económica, a de evitar novos conflitos entre as nações europeias.  

O que está em causa nas eleições  de Maio é a opção entre o regresso a um nacionalismo serôdio e aventureiro e um europeísmo mais consentâneo com a concorrência de grandes potências político-económicas e com a crescente mundialização, empurrada pelo avanço das comunicações, dos problemas e das relações humanas. Nessa opção, em última análise, pode estar o regresso da guerra ou a manutenção da paz no espaço da União.   

*O livro “A Primeira Guerra Mundial”, de Martin Gilbert, é um horrível testemunho da validade desta predição.

**Apesar de esta frase sugerir uma completa inacção, a verdade é que o célebre físico assinou várias petições contra a guerra.

CORREIO DE DROGA

António Mesquita



Um horticultor, veterano da guerra da Coreia, esquece a família para tratar dos seus lírios de um dia. Falta ao casamento da filha e apenas se dá bem com a neta. Um dia o seu negócio vai à ruína por causa da venda de flores pela internet (por essas e por outras é que ele abomina a tecnologia). Porque é um condutor seguro, e pela sua idade provecta, que o torna insuspeito, oferecem-lhe uma boa maquia para conduzir (com uma carga de droga no porta-bagagens, da qual ele, implausivelmente, não quer tomar conhecimento). A coisa corre tão bem que Earl começa a poder ajudar a família, a pagar as bebidas nas festanças e até a salvar da falência a Associação dos Veteranos.

A polícia, pelo seu lado, está numa corrida contra o tempo para apanhar o correio da droga e os chefes querem resultados retumbantes. Mas o velho Earl é a última pessoa de quem desconfiariam.

A certa altura, Earl tem de escolher entre entregar a sua carga dentro dos prazos ou confortar a mulher que deu entrada no hospital para morrer. Apesar das ameaças de morte da parte dos traficantes, ele encosta a carrinha e redime-se aos olhos de toda a família acompanhando os últimos momentos da moribunda que tudo lhe perdoa.

Earl é depois confrontado com os 'dealers' e compromete-se a levar até ao fim a sua incumbência. Mas já é tarde de mais. A polícia intercepta a sua carrinha e o agente que o prende é o mesmo com quem teve uma conversa serena numa das suas paragens, e em que,  sem que o outro desconfiasse de que estava alí o homem que procurava, se considerou um falhado por ter feito as escolhas de vida erradas, preferindo o trabalho aos afectos.

No tribunal, antecipa-se ao seu advogado e declara-se culpado. Todos percebemos que a culpa que assume é sobretudo a de ter preterido as pessoas a favor do trabalho. 

As últimas imagens mostram-no de regresso aos seus 'hemercale', mas desta vez em paz consigo próprio.

A história está bem contada e soberbamente interpretada, mas não podemos deixar de nos sentir desconfortáveis com o pouco que pesa nas decisões de Earl o facto de estar ao serviço de uma rede criminosa. Como se poder ajudar a família e fazer um brilharete com os amigos fosse o passa-culpas perfeito. Ficamos com a sensação de que se não fosse a polícia, nenhum prurido de consciência afectaria o nosso homem. De resto, a admissão de culpa, no tribunal, é outra coisa que a confissão de que o seu desejo profundo é ser deixado em paz - pelos agentes, traficantes e, 'last, but not the least', pela própria família? A idade não perdoa...

NO CORRER DOS DIAS

Marques da Silva



Levas-me pelos caminhos românticos deste jardim, abrindo-me as suas portas como se fosse uma visita guiada. Procurei-o quando pretendia ver Darwin na sua expedição descobridora que alteraria o olhar da humanidade sobre si própria e assim cheguei até ti e nele usufruí de um dos mais bonitos encontros da vida. De seguida tornou-se um espaço que é um misto de refúgio, de lembranças e recordações, de sonhos que desejava fossem reais. A Sofia, não a poetisa, mas antes uma jovem bióloga, apresentou-se. Falou com poesia da Casa Andersen, das suas simetrias e que aquando da sua construção destinou-se a um armazém de pólvora. Mais tarde, adquirida pelos avós da poetisa, a qual, na verdade nunca chegou a viver ali, mas antes um pouco adiante, na Rua António Cardoso, na Casa Cordeiro. Esta casa, cuja quinta possuía o dobro do tamanho, chegando até ao rio, até ser cortada pela VCI, era o seu espaço de lazer e repouso, de descanso e passeio e lhe marcou a infância. À entrada do lado direito a Sofia, a bióloga, mostrou-nos uma araucária. Espanto-me com esta gigantesca árvore tão presente na poesia de Neruda por ser oriunda da sua terra natal. Pensar no poeta, foi pensar num tempo de alegria e nas palavras que escreveu e fui soletrando ao vento, «as minhas palavras chovem sobre ti acariciando-te» e eu a desejar voar com elas em visita a esse espaço onde habitam os silêncios. Mostrou-nos a árvore do âmbar, o liquidâmbar. Prosseguiu caminho e explicou que as hidranjas são plantas invasoras nos Açores e que começam a tornar-se problema, pois vão diminuindo o espaço das plantas autóctones. Falou-nos dos plátanos e como as suas folhas se confundem com aquela que faz parte da bandeira do Canadá, e das bétulas, até pararmos junto ao jacarandá, mais conhecido como pau-santo, santo por ser com esta madeira que se construíam as igrejas no Brasil. Disse-nos também que quando a sua flor azul avioletada cai, transforma o caminho num tapete azul. Estamos agora junto aos cactos mas ao tentar fotografar pormenores, recantos, já não alcanço a explicação da totalidade. Entretanto, já havíamos apreciado, o alecrim e o tominho. Paramos agora junto dos dragoeiros e podemos apreciar o bosque que em tempos ali se iniciava e descia pela Arrábida. A estrada roubou as árvores e o silêncio, a tranquilidade. Estamos a meio e o meu pensamento passou a deambular em sonho. A árvore-da-borracha e o pau-brasil, aparecem já como som de fundo. Os lagos de nenúfares e papiros sobre o antigo campo de ténis são um momento de descanso. Caminhamos e aproximamo-nos da fonte que aparece na história do menino de bronze. O roseiral extenso, com alfazema, que serve para afugentar os mosquitos nas noites de Verão, e os lírios. Por fim, o jardim mais romântico do conjunto, o J, construído pelo avô da Sofia, a poetisa, para a Joana a sua avó. Tudo é bonito e belo. Deixo o olhar nas açucenas amarelas e no caramanchão sobre o banco. A Primavera faz viver o Outono. Estamos junto à entrada e o meu olhar e pensamento voam para o fundo do tempo, onde reina outra fragrância, outra beleza, outro aroma, outra alegria, no silêncio dos momentos infinitos e inesquecíveis. Lá dentro, no interior da casa grande, reinam cópias dos livros da poetisa, não dos que escreveu, mas dos que recebeu com palavras dedicadas, de ternura e carinho. E foram muitos, de homens e mulheres que admiraram o seu fulgor poético, a sua Grécia elevada no azul mediterrânico, ou a dignidade humana que outros cantaram. A tarde tomba devagar enquanto o sol penetra pelas janelas num banho de luz que nos acaricia enquanto contemplamos e lemos. No fim, ficamos sempre com aquele vazio na alma que nos faz ter vontade de regressar ao início, mesmo sabendo que a viagem, tal como a vida, já vai declinando para o crepúsculo.

O Estado espanhol prossegue em directo a farsa de julgamento dos presos políticos catalães, aos quais já condenou de antemão. O Partido Ciudadanos hesita, metaforicamente, entre a prisão perpétua e o fuzilamento; o Partido Popular não tem dúvidas: fuzilá-los e o antro de imundície que dá pelo nome de VOX, fuzilava-os todos os dias, e há cerca de 50% de espanhóis que se prevê votem nestes partidos. Na verdade, não conseguimos aprender nada com a história. 

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou-se consternado com a morte de três pessoas nos incidentes ocorridos na fronteira da Venezuela com o Brasil, aquando da tentativa frustrada da entrada ilegal de veículos com suposta ajuda humanitária; Qualquer morte de um ser humano é sempre de lamentar, mas ao fim de um mês de manifestações dos coletes amarelos em França, registavam-se 6 mortos, mais de 1400 feridos e milhares de detenções (http://visao.sapo.pt/actualidade/mundo/2018-12-14-Os-numeros-impressionantes-de-um-mes-de-coletes-amarelos) e nem uma palavra de consternação se ouviu do dito secretário-geral!

Já tínhamos no Brasil, Tiririca como um palhaço deputado e outro em Itália. Agora temos um deputado palhaço na Venezuela. Este é ventríloquo. Falam em Washington e ele repetia na Venezuela. Auto-proclamou-se presidente do país, no meio da rua em cima de um palanque. Nicolás Maduro foi eleito presidente com mais de 6 milhões e duzentos mil votos, Juan Guaidó foi eleito deputado com pouco mais de 90 mil. O espantoso é que este espectáculo grotesco foi reconhecido por 50 governos. Os EUA e o cartel de Lima, não é surpreendente, mas o número de países europeus, é demonstrativo de que a democracia entrou em terreno lamacento.

O impagável Augusto Santos Silva, reconheceu Juan Guaidó como presidente da Venezuela e de seguida foi solicitar ao governo de Maduro que permitisse a entrada de jornalistas portugueses, retidos no aeroporto por falta de autorização! Disse então que se dirigiu a quem controla as forças de segurança! O que controlará então o tal Juan Guaidó?


A SITUAÇÃO DO PAÍS

Manuel Joaquim

https://www.publico.pt/2018/03/20/politica/noticia/eleicoes-europeias-decorrerao-a-26-de-maio-de-2019-em-portugal-1807299



No próximo dia 26 de Maio vão realizar-se as eleições para o Parlamento Europeu cuja campanha está a realizar-se com muito empenho. Muitos locais estão a ser decorados com grandes fotografias de candidatos conhecidos e desconhecidos. O objectivo é a conquista de votos. Para muitos são lugares apetecíveis, são lugares ao sol.

A situação do país não é discutida com seriedade. A chicana política é o prato de todos os dias nas rádios, nas televisões e nos jornais para alimentar as conversas de café sobre assuntos tratados superficialmente e sem racionalidade. É a podridão a entrar nas mentes das pessoas sem quaisquer meios de defesa. É óbvio que existe uma orientação clara para atingir determinados objectivos.    

Os problemas da dívida pública e privada, com os respetivos encargos financeiros e a consequente falta de capital, os défices da produção, da agroalimentar, tecnológico, energético, de mão-de-obra e de mão-de-obra qualificada, a perda de capacidade de intervenção em sectores e em empresas estratégicas, designadamente no financeiro, hoje dominados por capitais estrangeiros servindo interesses que não os do país, não são tratados de forma esclarecedora com os portugueses.

Segundo o Relatório do Orçamento do Estado para 2019, os juros pagos pela dívida pública serão equivalentes a 3,3% do PIB, cerca de 6,9 mil milhões de euros por ano. Cerca de metade de divida interna é detida por instituições nacionais públicas e privadas e por aforradores/investidores. Em 10 anos Portugal pagou cerca de 73 mil milhões de euros de juros da dívida pública. Para os próximos cinco anos são mais 34 mil milhões de euros.

Quando se conhece que Portugal tem a maior zona exclusiva de pesca da EU e tem um saldo negativo na balança de pescado em mais de mil milhões de euros o que se pode pensar? O trigo produzido dá para 15 dias do ano, o milho dá para 4 meses e importamos 100 mil toneladas de arroz por ano. No leite somos autossuficientes para importamos 50 mil toneladas de queijo e 75 mil toneladas de leite. Falar da batata, da carne, da fruta, do azeite é falar das situações de desespero das pessoas que vivem nesses sectores. O Ministério da Educação compra maçãs francesas para oferecer nas escolas. 

O SNS tem sido o alvo dos grupos económicos da saúde. Pretendiam que o SNS se transformasse numa plataforma de transferência de dinheiros públicos para eles. Tirar ao Estado a sua verdadeira função. Os privados já têm mais de 50% das unidades de saúde existentes. 

São assuntos que merecem ser acompanhados com muita atenção. Das respostas que forem encontradas resultará um Portugal melhor ou um Portugal pior. E nessas respostas temos um papel a desempenhar.

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