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01/10/15

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CARTA AO MEDITERRÂNEO


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Estimado Mediterrâneo, escrevo-te nestes dias amargos, em que um drama persiste angustiando a alma humana, arrastando-nos a memória para os dias de trevas e nevoeiros pérfidos que nos esmagam a nobreza dos gestos e a delicadeza dos sentidos. Não, não são as tuas ondas alteradas a esmagar as areias das praias que o deserto faz transbordar nas tuas margens, nem são os teus dias invernais em que desejas estar sozinho no volume das tuas águas tocando o céu. É uma dor humana antiga que galgou as páginas da história e brota como um furúnculo sobre as tuas marés. É essa dor que nos magoa e nos faz escutar esse canto longínquo gritado do mais profundo da garganta, um cântico feminino, um som que vagueia no desespero da perda e da impotência em fazer parar esta sangria em que se esvai a humanidade. Um canto africano e um outro árabe que nos acorda a cada madrugada com o peito dorido de tanto sofrimento. É um sangrar sem sangue, porque essas aves humanas que se servem das tuas águas para caminhar à procura de esperança, de sonhos roubados, de sossego para o seu corpo esfaimado de pão e de paz, sucumbem no silêncio de um afogamento, sem nome e sem pátria, ficando a flutuar até que as correntes os arrastem para um descanso final. E tu, Mediterrâneo, na inocência do teu azul marítimo vais cobrando tributo para que a maldade humana não fique impune, mas fica, porque os «mandadores sem lei», permanecem incólumes com a conivência de todos nós, sentados no trono imperial da sua perversa desumanidade, suportados pelos seus aviões, os seus carros de combate, as suas mentiras, as suas torturas, a sua desfaçatez, a sua hipócrita e insolente democracia. Quando tomba a noite, quando os olhos nos encerram dentro do manto nocturno, ressurge aquele canto, aquele grito rouco de cansaço, vem voando dos oásis que alimentam os desertos terrestres e permitem a sobrevivência humana, chega, lento e distante, clamando pelos seus filhos, tão escuros, tão negros na sua pele, e tão alvos nos seus sonhos e na sua vontade de uma vida nobre e digna. Desperto o olhar como resistência a este atropelo miserável a que sujeitam a condição humana, mas acordo estupefacto numa pequena praia turca e sinto o estupor do inacreditável. Faz-se silêncio, um enorme silêncio, como se se escutasse os pequenos sons de uma ave planando na madrugada. Imóvel, beijando a areia, num enlaçar eterno e meigo, e tudo deixa de fazer sentido, a beleza adquire a grandeza do inqualificável, do insuportável, e o cântico transformado em clamor, regressa, sem lágrimas, esgotadas por tanto sofrimento, tanta violência, parece esvair-se vencido pela crueldade dos senhores do mundo e até os três grandes deuses que reinam nas tuas margens se sentem impotentes para deter esta corrente de águas sujas e lamacentas com que essa imundície que se senta no poder dos Estados, faz crescer sobre as tuas águas eternas. O holocausto palestiniano, transferido para a Europa e pelo continente voltam a ouvir-se os comboios a rolar em direcção a campos de concentração ou de reunião, regressam as tatuagens nos membros superiores com números que substituem a identificação, há de novo arame farpado estendido para impedir fugas e invasões, e polícias, militares, a pureza das raças, sobretudo a preservação de olhos azuis, pele branca e cabelos dourados. Bombardearam-lhes as casas, destruíram-lhes as instituições, fizeram colapsar os seus Estados e agora negam-lhes instantes de repouso, de uma vivência digna, de um dia com comer e sem bombas. E assim, continuo a acordar de madrugada e os meus olhos enchem-se com as tuas águas polvilhadas de cadáveres, de gente aflita, de mãos sangrando, e os meus ouvidos acumulam o lamento que voga sem destino nesse que já foi «Mare Nostrum» e de alma devastada regresso sem fim às águas de uma pequena praia da antiga Ásia Menor e o pequeno rosto, estático, sereno, sem vida, a exigir contas a todos nós. Amin Maalouf escreveu que o «Oriente muçulmano e o Ocidente de tradição cristã estão imersos num diálogo de surdos» e hoje, acrescenta, talvez mais do que nunca, digo eu, necessitamos de «um diálogo das almas». Pensavas tu, estimado Mediterrâneo ter visto tudo, fenícios e cartagineses, trirremes gregas, cruzados vingadores, corsários, a batalha de Lepanto, árabes e otomanos, culturas e religiões, mas faltava-te ainda esta tragédia, esta violência ilimitada de fazer morrer gente que procura a esperança, um lugar, apenas um lugar onde possam viver dignamente. E as tuas águas propícias a navegações, a velas desfraldadas, que se habituaram a unir espaços, transformam-se numa gigantesca necrópole, sem cruzes, apenas de covas profundas e incógnitas. Estimado Mediterrâneos as estradas do teu mar vão continuar a sugar vidas indefesas, gentes de aquém e de além, num infernal ciclo semeado por diabólicas ganâncias e perversos interesses, e nós, na nossa impotente complacência, ainda não nos apercebemos que os sinos que tocam, não o fazem apenas pelos que vão, estão antes dobrando por todos nós. Mar Mediterrâneo, encerro esta minha dolorosa carta com um abraço de esperança.

«Regardez notre mer,
amoureuse du ciel,
elle a le doux gout du miel.
En remontant les vagues
ells ne veut qu’embrasser
et donner un baiser
à ses nuages.»

Manuel Forcano em Mireu el Nostre Mar 


Afonso Anes Penedo  






2ª. CARTA DO UNIVERSO AOS HUMANOS

Mário Martins
https://www.google.pt/search?q=religi%C3%A3o&tbm



Na carta anterior queixava-me da minha relativização, resultante da recente teoria dos universos paralelos, mas, para falar francamente, não sei o que será pior, se isso se a vossa antiquíssima crença em Deus(es) fora e acima de mim. Está fora de questão, pese aos ateístas, que eu, chamem-me Universo ou Natureza, tenha uma essência divina, no estrito mas incontornável sentido de me autojustificar. Mas que daí imaginem um mundo sobrenatural e criem Deus(es) à vossa imagem e semelhança, é um passo só explicável por a única inteligência sofisticada que conhecem ter forma humana e, principalmente, devo reconhecer, pelo facto de eu ser imperfeito apesar de divino. Compreendo que um mundo tão marcado pelo sofrimento não possa ser considerado perfeito. A(s) Religião(ões) é, assim, a vossa defesa da imperfeição do mundo. Ela possui a arte de transformar a imperfeição em perfeição, o mal em bem, o sofrimento em prova, a morte em passagem. Ela dá o alento necessário para suportar aquilo que a humanidade em geral acredita que são os insondáveis desígnios de Deus(es). Ela permite que a vossa imaginação crie mundos mitológicos perfeitos, intangíveis e sagrados, em oposição a mim, imperfeito, tangível e profano. A(s) Religião(ões) é uma reacção compreensível do vosso pensamento e imaginação à imperfeição real do mundo, que nenhuma outra disciplina está em condições de substituir. E no entanto, sem falsa modéstia, eu reúno em mim as qualidades de profano e de sagrado. Sou concreto e abstracto, tangível e intangível. Sou a fonte da vida e da inteligência. Sou a realidade objectiva e subjectiva, quero dizer, a realidade que vos é exterior e a realidade física e psicológica de observadores inteligentes do mundo. Sou o Todo. Assim falou o Universo.    



PROVIDÊNCIA

António Mesquita







"Hoje, porém, já ninguém quererá afirmar que a qualidade da vida social colectiva melhora necessariamente com a crescente complexidade dos sistemas sociais."

Jürgen Habermas

Na origem desta concepção está, claro, a própria ideia do progresso. "O iluminismo traz inerente a si a irreversibilidade de processos de aprendizagem fundamentada no facto de que as formas de compreensão não podem ser esquecidas a belprazer, mas sim e apenas reprimidas ou corrigidas por outras melhores." (idem) O século XX, bastou para nos lembrar, porém, que podemos sempre voltar à barbárie. Nada está garantido, nem nada se aprende para sempre.

Ao mesmo tempo, aparece-nos a própria complexidade dos sistemas como implicando em si um 'progresso'. Ora, só pudemos crescer até aos números da actualidade desenvolvendo sistemas de organização cada vez mais complexos. Não é possível, porém, comparar a qualidade da vida social pelo tamanho do formigueiro humano ou pela velocidade da comunicação.

A ideia hegeliano-marxista de alienação é um avatar da clássica separação do corpo e do espírito no indivíduo, transformada no messianismo de uma classe produtora dominada pelas próprias condições do seu trabalho. Mas como, cada vez mais, se deve referir a dominação social à complexidade (que pode conservar os antagonismos de uma forma impenetrável, e até 'inobjectável' para a antiga argumentária), quase que poderíamos dizer que estamos perto de criar uma nova Providência e a viver as condições presentes num estado nunca visto de despolitização.


TEMPOS CONTURBADOS




Manuel Joaquim




O Papa Francisco

O Papa Francisco, na viagem que efectuou a Cuba e aos EUA, numa das suas intervenções públicas, referiu-se a que o mundo está a sofrer a terceira guerra mundial, faseadamente. O presidente da Bieolorrússia, Lukashenko, no discurso que fez na Assembleia Geral das Nações Unidas, disse que o mundo está a caminhar para a terceira guerra mundial.

A partir deste mês de Outubro deixam de existir ligações aéreas entre a Ucrânia e a Rússia. Continua a haver uma grande concentração de material bélico muito sofisticado, especialmente nos países da Europa Central e do Leste.

No Médio Oriente, a guerra entrou numa nova fase. A Rússia, em apoio às autoridades da Síria, enviou aviação, mísseis, tanques e pessoal militar para combater terroristas que são municiados por países inimigos da Síria. Foi formado no Iraque um comando operacional conjunto pela Rússia, Iraque, Irão e Síria para coordenação das operações militares. O discurso de Putin na Assembleia Geral da Nações Unidas foi claro sobre os problemas do terrorismo e da Síria. Obama organizou uma reunião com representantes de países fora das estruturas da ONU que não foi bem aceite. A CNN refere que Obama foi secundarizado e ultrapassado. A França, pela primeira vez, fez um ataque aéreo a território da Síria sem respeitar a sua soberania. A iniciativa da Rússia perturbou os países ditos ocidentais, fortemente interessados na alteração política na Síria com vista a manter os seus interesses imperiais na região.

As tentativas para derrubar os governos do Brasil, da Venezuela, da Argentina e outros mantêm-se, apesar de terem sido eleitos segundo as regras da chamada democracia ocidental e suficientemente fiscalizadas internacionalmente. 

Em contraponto ao atrás referido, é de saudar o início de relações entre Cuba e os EUA com um papel muito importante desempenhado pelo Vaticano e pelo próprio Papa, reconhecido por ambas as partes. Como é de saudar as negociações que ainda estão a decorrer em Cuba entre as FARC e o governo da Colômbia, para pôr fim à guerrilha mais antiga do mundo que envolve muitos milhares de combatentes directos e indirectos, e que certamente vão chegar a acordo. Outros conflitos existentes entre países da América do Sul, nomeadamente de fronteiras, estão a ser negociados pacificamente.

Duas guerras mundiais tiveram como principal cenário a Europa. Viveram-se 50 anos de paz depois da 2a. guerra mundial. Entretanto os ventos da guerra chegaram através da ex-Jugoslávia. A comunicação social dominante não informa com isenção nem divulga os valores da Paz. É importante que as pessoas defendam um mundo sem guerras e em PAZ.

Estamos em plena campanha eleitoral. Ontem, na Antena UM, ouvi que a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, mandou dar uma "martelada" nas contas da empresa Parvalorem que gere valores do ex-BPN. As justificações e comentários feitos pelos próprios intervenientes, dados a público em diversos jornais, confirmam que, na verdade, houve "martelada" nas contas. Alguns comentadores ficaram zangados com o termo "martelada".

Sorri. Sorri pelos comentários dos comentadores. Para quem não sabe, "Martelada" é da gíria dos contabilistas, há muitos anos, quando fazem alterações de resultados nas contas das empresas. A maior parte são ignorantes e não sabem como se "fazem" os resultados nas grandes (e outras) empresas nem como são administradas.

Quantas empresas branqueiam (ou agravam) os seus resultados para atingirem os seus objectivos, mesmo com a existência dos órgãos legalmente estabelecidos para fiscalização, designadamente, Conselhos Fiscais, Conselhos Gerais, auditores internos e externos, e com instituições de supervisão? Quantas sociedades anónimas realizam, efectivamente, as respectivas assembleias gerais de accionistas? E as que realmente se realizam como funcionam?

O que se está a passar com a falsificação dos motores dos carros do grupo VW? Anda o mundo inteiro a tomar medidas contra a poluição, aplicam-se multas a empresas e países, são retirados dos mercados produtos poluentes e aparece agora (desde há anos) o maior fabricante mundial a contaminar o ambiente e a fazer concorrência desleal aos outros construtores e a impor-lhes restrições que não cumpre. E os carros fabricados em Palmela (EOS) exportados para a China e que as autoridades locais já mandaram recolher por problemas detectados na coluna de direcção e que até agora não foram objecto de grande notícia. É a lógica do lucro, do lucro máximo, não olhando a meios para atingir os objectivos do grande capital. É o sistema a funcionar. O governo alemão já veio a público dizer que está perante actos criminosos, que serão julgados.

Num país com alguma dignidade democrática a ministra Maria Luís Albuquerque já não devia fazer parte do governo (não esquecendo a responsabilidade que teve em contratos de parcerias público privadas).

Ricardo Salgado não está isolado nos seus processos de gestão.

O Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social que detém a gestão do Fundo Especial dos Seguros, com receitas próprias, não publica os Relatórios e Contas desde 2008, não respeitando a legislação em vigor. A justificação é que perderam a informação relativa ao Fundo.

O Fundo esteve anos sem pagar o subsídio de lar a muitos segurados (beneficiários). Alguns foram reembolsados de valores atrasados depois de reclamarem. Mas certamente há outros que por ignorância perderam dinheiro. Como é possível situações destas? Os milhões de euros disponíveis não terão sido utilizados para outros fins?

Discute-se muito o problema da Segurança Social, do plafonamento, de cortes nas pensões de reforma, nas actuais, que estão em pagamento, e nas futuras, a pagar aos novos reformados, com o argumento de que número de activos está a dimlnuir, que o número de utentes está a aumentar e que o país está a ter um problema grave em termos de população.

Ninguém fala sobre os montantes em dívida à Segurança Social, dos montantes utilizados para indemnizar trabalhadores por despedimento para facilitar a reconversão das empresas, dos investimentos efectuados em produtos lixo do sector financeiro e da falta de controlo sobre os critérios de utilização dos dinheiros existentes. A maior parte dos comentários sao feitos sem qualquer fundamentação, funcionam por simpatia e servem pare levar as pessoas a aceitarem o agravamento das condições de vida como inevitável.

Na primeira quinzena do mês de Setembro foi publicado um estudo sobre a população portuguesa, com informações muito importantes sobre a realidade passada, presente e perspectivas até ao ano 2040, suas implicações na economia, no investimento e na organização do território.

Foi publicado em Iivro, pela Gradiva, e tem como autores:

- Eduardo Anselmo Castro, professor no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, especialista em técnicas de análise de apoio à informação e políticas de inovação e desenvolvimento regional. Coordena a unidade de investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas.

- Jose Manue! Martins, professor no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, especialista em técnicas de análise de dados e economia e gestão do ambiente. Foi vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional da Região Centro.

- Carlos Jorge Silva, investigador no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, especialista em demografia e avaliação de políticas públicas.

"A Demografia e o País — Previsões cristalinas sem bola de cristal" é o título do Iivro.

Para quem procura informações para estar devidamente informado não pode ignorar este trabalho.




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