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01/07/12

MUROS RELIGIOSOS (13) O fim da viagem

Mário Martins
Distribuição das maiores religiões pelo mundo (Wikipédia - 2008)



Chegamos ao fim desta já longa viagem por alguns dos aspectos que me pareceram definidores da doutrina e das linhas de fronteira das grandes religiões do mundo. Não abordei, evidentemente, todas as religiões mas isso, tão-só, por seguir um critério quantitativo de seguidores2, ainda que certamente grosseiro, e não, de modo nenhum, de menor respeito pelas religiões não visitadas. Como ressalvei no início, o objectivo não foi avaliar a prática do facto religioso; fosse essa a finalidade da viagem e muito do seu encanto se perderia; bastaria, de facto, avaliar a condição da mulher sob as diferentes abóbadas celestes para se compreender que o seu estatuto de inferioridade está muito longe de ser uma marca distintiva do Islão, como parece julgar-se a Ocidente.

No decurso desta viagem pude compreender que há mais (e grande e diferente) religião para lá do Cristianismo e do Islão, omnipresentes a Oeste, e que “pouco sentido tem contrapor religiões ditas universais a outras que o não seriam, (já que) toda a religião se pretende universal na medida em que propõe uma visão global e coerente do universo e atribui aos seus fiéis, sejam eles membros de uma tribo obscura ou altos prelados de uma hierarquia constituída, um lugar significativo no todo cósmico”.3 O que quer dizer, sem eufemismos, que não só não são universais como nos poderemos interrogar se poderiam alguma vez sê-lo, marcando elas como marcam as diferentes culturas e civilizações. Talvez que num futuro mais ou menos distante, com a crescente mundialização da vida dos seres humanos, se possa afirmar a religião cósmica de que falava Einstein.

O que se passa é que, tal como acontece com a psicologia individual, as partes da humanidade que seguem cada grande religião não vêem o mundo real nem o mistério da existência da mesma maneira, apesar de, mais ou menos inconscientemente, cada parte assumir que a sua visão, além de verdadeira, é ou devia ser universal. Em suma, sendo as religiões culturais, nenhuma poderá ser verdadeiramente universal sem que, em conexão com ela, se afirme e predomine uma supra cultura planetária decorrente da facilidade das comunicações e da interdependência da economia e assente numa visão de igualdade natural da humanidade.

O que é universal (na medida em que é sentido por todos) é o mistério da existência ou da realidade. É esse mistério (por que existe a Natureza em vez de nada? qual a origem e o sentido daquilo a que chamamos leis da Natureza?), a par da angústia do sofrimento e da morte, que explica, aliás, a força e a sobrevivência de religiões que, para além de inegáveis virtualidades, tão dolorosamente marcam a história humana.

Devo reconhecer que para mim (civilizado judaico-cristão que sou…) foi motivo de espanto aprender que é muito complicado, se não mesmo impossível, equiparar o Deus das três religiões do Livro (Judaísmo, Cristianismo e Islão, admitindo, de passagem, que Deus e Alá significam o mesmo…) ao Absoluto dos hindus e, ainda mais, descobrir que para budistas, tauistas e xintoístas, não há Deus; donde não se poder falar com propriedade, como apressadamente fiz na breve introdução ao primeiro texto, de “um mundo aparentemente unido pela crença, quase universal, num Deus único”; se há um denominador comum entre as grandes religiões, esse será a sublimação do sofrimento e da morte e o culto dos antepassados, e não Deus.

Como já escrevi nestas páginas, “a representação milenar do mistério da existência e da sublimação da morte pela(s) Igreja(s), com os seus mitos e rituais, a organização da religião em suma, marca e demarca civilizações e culturas, é uma das mais ricas fontes das artes, e constitui um poderoso lenitivo psicológico e um sólido cimento de ligação social”. A importância, por exemplo, dos templos religiosos espalhados pelo mundo está muito para lá do seu valor artístico ou do poder e interesse das hierarquias organizadas que abrigam; eles constituem, com efeito, uma espécie de sinais amarelos no trânsito quotidiano de todos os seres humanos, sejam ou não seguidores de uma religião; fazendo a ponte com o mistério da existência, são uma permanente e indispensável chamada de atenção de que vivemos sob condição.

As diferentes e entre si contraditórias respostas das grandes religiões aos temas metafísicos assentam no mito e na alegoria e, por isso, os seus representantes as podem apresentar como certas, embora o façam, com o ar mais sério deste mundo, como se fossem verdades históricas ou assentes na prova, pretendendo mesmo, aqui e ali (misturando arbitrariamente o plano do mistério da realidade com o plano da sua medição) equiparar a religião à ciência, assim objectivamente induzindo as massas de fieis a confundirem o conhecimento que em cada época os seres humanos podem ter da realidade com o que é apenas mito e símbolo.

O pasmo humano pela grandeza do cosmos, pela inteligência superior que supõe, pela sua beleza, é mais do que justificado; a meu ver, porém, a perfeição do mundo acaba aí, na complexidade elegante de uma equação matemática ou na beleza de um poente, de uma coisa ou de alguns sentimentos humanos; o resto é sofrimento incompreensível e angústia inquietante. Precisamente porque só com um olhar técnico podemos achar a Natureza perfeita é que o fenómeno religioso da fé é fundamental para idealizar o seu “carácter” e assim justificar a adoração do que é, com o toque da graça, agora divino. Bem poderíamos concluir que o papel central da religião é, afinal, o de minorar o sofrimento e a angústia das crianças que nunca deixamos de ser: parafraseando Anthony Kenny 4, se a ciência dá conhecimento e a filosofia compreensão, a religião, acrescento eu, consola.



1 Este mapa deve ser entendido como um indicador da distribuição geográfica das maiores religiões, e não como se cada região do mundo fosse monocolor em termos religiosos.
2 Exceptuando o Judaísmo, por ser o berço da religião oficialmente maioritária do mundo, o Cristianismo.
3 Paul Demiéville, citado por Jean-Noël Robert, in “As Grandes Religiões do Mundo”.
4 in “A História da Filosofia Ocidental”.

Nota final: Esta viagem pelo mundo religioso seguiu o itinerário dessa grande obra que é “As Grandes Religiões do Mundo”, citada em todos os textos. Optei por transcrever as partes da obra que me pareceram mais definidoras de cada grande religião, em vez de disfarçar a minha ignorância especializada. Ao fazê-lo, sem nenhum intuito comercial (sublinhe-se), espero ter dado a publicidade devida a uma obra que, sem dúvida, merece ser lida e estudada.


1 comentário:

Anónimo disse...

Todo o islam é inválido.
No início maomé nem corão tinha ou pedia mas já queria o poder todo, como o de matar cruelmente pessoas justas inocentes e indefesas(33:61)

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