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01/03/12

HUGO

António Mesquita
"Viagem à Lua" (George Méliès)


Este filme mais do que uma homenagem a um dos pioneiros do cinema, George Méliès, é-o à memória daquilo que faz uma civilização. E foi escolhida para isso uma bela história em que um rapazinho procura a chave para uma mensagem deixada pelo pai desaparecido.

O autómato que Hugo esconde na  torre do relógio que passou a ser encargo seu desde o abandono dum tio bêbedo, estava a ser consertado pelo pai que lhe queria arrancar o segredo. Ora essa máquina era, ao mesmo tempo, obra do velho Méliès que a julgava  perdida, e o símbolo do próprio cineasta. O grande sucesso de Méliès foi interrompido pela 1ª. Guerra Mundial e, a partir daí, o seu cinema deixou de ser popular.

Ele foi esquecido, a  obra perdeu-se na sua maior parte e o seu entusiasmo deu lugar à decepção e ao ressentimento. Considerava-se, como o seu autómato, um boneco partido.

O facto de se "fazer justiça", pondo o autómato a desenhar a "Viagem à Lua" e recuperando algumas dezenas dos seus "sketches", levando à consciência do próprio Méliès o seu lugar na história do cinema, torna-se "a mensagem" do pai de Hugo.

Mas percebemos que a alegria do criador, em Méliès, pelo reconhecimento, agora duma minoria culta, não deixa se ser ambígua. Porque os seus filmes, ingénuos na sua "féerie", são ininteligíveis e chocam o gosto moderno ( que "os efeitos especiais" e tantas outras coisas adulteraram). E, assim, de certo modo, a "chave" para o autómato perdeu-se para sempre.

A memória é essencial, mas até certo ponto é irrecuperável. O futuro "canibaliza" o passado ( ou invade-o como uma potência  colonizadora).

Méliès está em todas as histórias do cinema, mas o seu público é uma "camada arqueológica" do público de hoje.

Scorcese, que se envolveu tão profundamente na conservação e no restauro dos filmes mais antigos, viu esta "passagem do tempo" com os olhos do amor.

Honra lhe seja.


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